Emerge na segunda metade do século XX a percepção de um desequilíbrio ecológico capaz de afetar gravemente a existência humana. A população mundial atingiu um nível de consumo que requer exploração cada vez mais intensa de recursos naturais – terrestres, fluviais e marítimos – e tornou-se evidente que eles são finitos. Nessa situação de superexploração da natureza, muitos ecossistemas que compõem o planeta estão ameaçados de graves perdas em biodiversidade ou mesmo de extinção, sendo afetados também os processos básicos de regeneração da biosfera. Sintomas dessa crise ambiental podem ser percebidos por toda parte e cada vez mais chamam a atenção de movimentos sociais, organizações da sociedade civil, governos e instituições internacionais.
Ponto de grande importância nessa tomada de consciência da dimensão planetária da vida ameaçada é a percepção de que fatores de ordem cultural, histórica e econômica estão na origem desta situação: no âmago da questão está a exploração desordenada da natureza por parte dos humanos. Ao atribuir-se a si mesmo o direito de tudo tratar como objeto de consumo, o ser humano torna-se capaz de tudo subjugar por meio da tecnociência, pois os humanos estão separados e acima da natureza. Essa concepção antropocêntrica abre caminho para a exploração exacerbada do meio ambiente, gera o entendimento de que a razão e a tecnologia tudo podem resolver. Assim, a perspectiva que projeta os humanos como donos absolutos do planeta e como seres que podem usufruir desmedidamente da natureza entrou em rota de colisão com a necessidade de preservação da comunidade de vida planetária.
A lógica de dominação e subjugação da natureza para atender aos padrões humanos provocou problemas de superexploração dos recursos naturais. As atividades de produção em escalas cada vez maiores exigem cada vez mais a utilização de escassos elementos da natureza e a retirada indiscriminada desses elementos ameaça a vida humana.
Contra a desenfreada exploração do meio ambiente emerge uma outra concepção, que projeta uma relação harmoniosa entre os humanos e a natureza. Trata-se da perspectiva biocêntrica: termo constituído pelo entendimento de que todos os seres vivos, independente da espécie e das diferenças, são merecedores de respeito. Nessa perspectiva, também os recursos naturais do planeta, como a água, o ar, os minerais, o solo, assim como todo o planeta Terra, merecem atenção, por serem elementos fundamentais para a manutenção da cadeia de vida planetária.
Diante de uma sociedade complexa e interligada, todos têm uma parcela de responsabilidade perante a crise ecológica. As religiões fomentam uma ética e uma moral que servem de referência para boa parte da humanidade. O Cristianismo é a maior religião do mundo e a Igreja Católica a maior instituição dentro dessa religião; como fomentadora de valores morais e éticos para boa parte da sociedade, ela pode contribuir de forma significativa para a redução dos desastres naturais provocados pelos humanos.
*Luiz Eduardo de Souza Pinto – Doutorando em Sociologia/UFMG
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