À primeira vista, às mulheres não é dado muito destaque no conjunto dos relatos dos evangelhos. Isso porque esses foram escritos dentro de uma cultura em que às mulheres, tais como às crianças, idosos e doentes, era negado relevância social ou religiosa. Contudo, nos breves relatos evangélicos em que há a presença das mulheres, a elas são destinadas palavras de maior ordem na gramática de Jesus e do seu reino.
São Lucas, em seu relato, indica que no grupo composto por Jesus e seus discípulos se assomavam algumas mulheres que a todos serviam com o que tinham (cf. Lc 8,1-4). Enquanto nos relatos protagonizados pelos discípulos presenciamos a busca pelos primeiros lugares (cf. Mt 20,20-28), e a conhecida oposição de Simão Pedro à entrega incruenta de Cristo (cf. Mt 16, 21-28), naqueles de protagonistas femininos temos o cuidado, o serviço e a promoção da vida. Aquelas pouco nomeadas mulheres são, desde a primeira hora, vocacionadas e testemunhas do amor cuidadoso de Deus. São, sem dúvidas, ícones do discipulado missionário que se faz fermento na massa, e que faz crescer, em silêncio, as mãos ternas de Deus.
O próprio anúncio da Ressurreição foi feito por Maria, de Magdala, recentemente enaltecida como Apóstola dos Apóstolos. Ela é exemplo do protagonismo de uma mulher que não se deixa parar pelas noites escuras da sociedade e da alma, mas que busca estar sempre com o seu Senhor, e é recompensada pela Melhor Notícia da Ressurreição. A Igreja nascente aprendeu logo cedo a assumir esse testemunho, incorporando em seu ser aquelas características primeireadas pelas discípulas do Senhor.
Contudo, historicamente, a importância das figuras femininas foi sendo suprimida dos relatos de primeira ordem, mas, se demorarmos um pouco mais, logo emergirão nomes de diversas mulheres, canonizadas ou não, que seguiram ecoando uma verdade que urge assumirmos: a Igreja é mulher! Como mulher, à luz dos testemunhos aqui trazidos, a Igreja deve estar sempre atenta e disponível para, apressadamente, se colocar a caminho, e, pelo serviço terno, exaltar o Deus que olha a pequenez dos atos feitos com amor.
Nas palavras do Papa Francisco: eu gostaria de ressaltar que a mulher tem uma sensibilidade particular pelas “coisas de Deus”, sobretudo para nos ajudar a compreender a misericórdia, a ternura e o amor que Deus tem por nós. Gosto de pensar também que a Igreja não é “o” Igreja, mas “a” Igreja. A Igreja é mulher, é mãe, e isto é bonito. Deveis pensar e aprofundar isto (Discurso do Papa Francisco aos participantes do Seminário sobre a Carta Apostólica Mulieris Dignitatem, de João Paulo II). Até porque, como afirmou o Santo Padre argentino em outro momento, as mulheres sabem ver as coisas com olhos diferentes dos homens. Nesse sentido, ganha força a fala de nosso Arcebispo, Dom José Carlos, quando insistiu, na abertura do Ano Pastoral, no último sábado, que somos os poucos dessa hora, que devem cuidar dos tantos que nesse solo norte-mineiro se encontram.
Somos Igreja composta por uma maioria de mulheres, leigas e consagradas, sobre as quais brilha o testemunho de amor e empenho do cuidado. Valorizá-las, contudo, não significa clericalizá-las, mas entender suas vidas e vocações como profético anúncio da verdade que há muito reprimimos: precisamos anunciar que o Reino é de proximidade e compaixão, que é um Reino de um Deus que é Pai e Mãe, como bem lembrou o papa João Paulo I. Celebrando o dia dedicado às mulheres, não queremos fechar os olhos para as inúmeras lutas enfrentadas por elas, mas reforçar que estamos ao seu lado, caminhando juntos, e aprendendo delas, ainda que a passos lentos, a sensibilidade pelas coisas de Deus e o testemunho de cuidado com todos. Que a Virgem Maria, Mãe e modelo da Igreja, seja também referência em nosso caminho diário rumo ao Reino definitivo.
Equipe Arquidiocese em Missão
Arquidiocese de Montes Claros