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“A loja do ourives”

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O papa São João Paulo II, quando ainda tinha cerca de 40 anos, escreveu uma peça teatral com o seguinte título: a loja do ourives. Trata-se de uma obra cujo pano de fundo é uma reflexão sobre o matrimônio, com seus sonhos e seus desafios. Para o papa polonês, o amor é um dos processos do universo que conduz à síntese, une as coisas divididas, alarga e enriquece o que é estreito e limitado. Contudo, como ele mesmo coloca já no início do primeiro ato, este é um longo caminho que deve ser percorrido pelos nubentes, e que, cada qual a seu modo, faz resplandecer o divino em meio ao mundo.

O sacramento do matrimônio é um sinal precioso, porque quando um homem e uma mulher celebram o Sacramento do Matrimônio, Deus, por assim dizer, “espelha-se” neles, imprime neles as suas características e o caráter indelével do amor. O Matrimônio é o ícone do amor de Deus por nós. Nisto está o mistério desse sacramento: dos dois esposos Deus faz uma só existência. Os esposos são investidos numa autêntica missão para que possam tornar visível o amor com que Cristo ama a sua Igreja (Ef 5,21-33).

Podemos, por isso, indicar que, como sacramento, o matrimônio, e a partir dele a própria família, é um lugar histórico em que devemos experimentar a vida e salvação de Cristo. É dele que o amor matrimonial nutre os valores da autodoação, do perdão ilimitado e do recomeçar, participando do amor de Cristo à Igreja no movimento de purificar e santificar. É Ele, ainda, que faz transbordar o amor dos dois cônjuges em direção da comunidade e da sociedade, gerando um projeto comunitário muito maior: a civilização do amor. É em Cristo que, apesar das fragilidades, compreendemos que a família ganha um sentido escatológico, isto é, conduz a todos rumo à plenitude final.

Todavia, convém não confundir planos diferentes: não se deve atirar para cima de duas pessoas limitadas o peso tremendo de ter que reproduzir perfeitamente a união que existe entre Cristo e a sua Igreja, porque o matrimônio como sinal implica um processo dinâmico que avança gradualmente com a progressiva integração dos dons de Deus (AL, n.122). Por isso, o papa Francisco, na exortação sobre o amor nas famílias (A Alegria do Amor – Amoris Laetitia) recorda algumas expressões não podem faltar na caminhada de nenhum lar: com licença, obrigado e desculpa.

Com licença, porque mesmo se tornando um só, os esposos não perdem sua singularidade, e por isso deve haver respeito e consciência do sagrado que é o outro e sua história. Obrigado, porque gerado na liberdade, nenhum ato de amor é egoísta e fechado em si. E, por fim, dado nossa contingência, somos passíveis de falhas, e, movidos pelo amor temos vontade de crescer, por isso devemos ousar pedir desculpas.

Assim, celebrando a Semana da Família, não deixemos que ela seja poluída pelos venenos do egoísmo, do individualismo, da cultura da indiferença e do descarte, perdendo assim o seu DNA que é o acolhimento e o espírito de serviço (Papa Francisco). Para tal, recordemos sempre, como indicou São João Paulo II na sua peça, os riscos que corremos quando nos deixamos arrastar por um amor que se imagina absoluto, mas não se apoia nas dimensões do Absoluto que é Deus. Reafirmando a sacralidade da família e o dom da vocação matrimonial, ousemos percorrer os caminhos do Amor como fizeram inúmeras famílias que também se tornaram sagradas!

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