Há pouco vivenciávamos o Tríduo Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo, o qual colocou-nos em íntimo contato com a centralidade de nossa fé cristã: o Mistério Pascal. Esse tripé nos recordou o itinerário percorrido por Jesus, Ele que “passou fazendo o bem e curando […]. Ele, a quem no entanto mataram, suspendendo-o no madeiro. Mas Deus o ressuscitou […]” (At 10,38-40). Daí pensar que a Ressurreição não é um mero fato isolado, desvinculado dos outros eventos da vida de Jesus Cristo. Antes, o Seu mistério Pascal, cujo ápice é a Ressurreição, é o ponto culminante da revelação e atuação da misericórdia, sendo capaz de justificar o homem, e de restabelecer a justiça como realização do desígnio salvífico que Deus, desde os primórdios, tinha querido realizar no ser humano, e, por meio deste, no mundo (cf. João Paulo II – Dives in Misericordia, 1980).
O Crucificado é o Ressuscitado e vice-versa (cf. Ap. 1,18). Crer Nele significa crer que o Amor está presente no mundo, que o Amor é mais forte do que toda a espécie de mal em que o homem, a humanidade e o mundo estão envolvidos. Crer neste amor significa acreditar na misericórdia. Misericórdia que não conhece limites “e é infinito o tesouro da tua bondade” (Oração após o Hino Te Deum). Na Vigília Pascal, ao entoarmos o Exultet, recordávamos a imensidade do amor de Deus por nós, um amor que sobressai às nossas limitações, que é maior do que o contraste e a cisão que a criatura introduziu no mundo. Prova disto é a resposta de Deus Pai frente ao maior pecado do mundo, isto é, a morte de seu Filho: Jesus não foi ressuscitado para a nossa condenação, mas “para a nossa justificação” (Rm 4,25), para a nossa salvação. Aqui está o maior ato de misericórdia de Deus.
À vista disso, a vida nova e plena que a ressurreição traz por significância é, na verdade, o ponto de chegada de uma existência posta a serviço do projeto salvador e libertador de Deus. Essa vida experimentada na entrega e no dom de si é uma proposta transformadora que, uma vez acolhida, nos liberta da escravidão, do egoísmo e do pecado. Em consequência, nos faz ser arautos da Boa Nova que liberta, transforma, nos faz próximos e solidários. No dizer do Cardeal Raniero Cantalamessa, a Ressurreição é a escola de misericórdia, pois convida à reconciliação e ao perdão dos inimigos. É isso o que acontece com Tomé (cf. Jo 20,19-31).
No 2º Domingo da Páscoa a Igreja, em sua sabedoria, nos convida a celebrarmos o Domingo da Misericórdia, isto é, momento oportuno para recordarmos os grandes feitos do Senhor em nossas vidas e render-lhe graças “porque ele é bom! Eterna é a sua misericórdia” [Sl 117 (118)]. O Evangelho deste dia, Jo 20,19-31, descreve as maravilhas realizadas por Jesus Cristo em sua primeira aparição pública, no mesmo dia da Ressurreição. Aqui, provoca-nos a presença do Ressuscitado que, em seu corpo Glorioso, traz impressas as marcas da Paixão, chagas que sinalizam a prova do grandioso amor de Deus por nós. Portanto, a ressurreição de Cristo é, realmente, o triunfo da misericórdia de Deus, a qual nos interpela a sermos, também, canais e instrumentos da misericórdia salvífica de Deus onde estivermos inseridos.
Equipe Arquidiocese em Missão
Arquidiocese de Montes Claros
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