Ecoando a celebração dos 15 anos da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho, em Aparecida, e nos encaminhando para a Semana Arquidiocesana da Comunicação (22 a 29 de maio) queremos hoje refletir sobre o chamado a sermos comunicadores da vida plena (cf. DAp, n. 347-379). Diz-nos o texto final da conferência que o impulso missionário é fruto necessário à vida comunicada pela Trindade. Em outras palavras, os bispos nos recordam que a missionariedade é, simultaneamente, aceitar o convite dos Divinos Três a partilhar de sua vida e ressoar esse convite aos outros.
Não se trata aqui daquilo que Michael Green chamou de tagarelar sobre o Evangelho. Antes, é uma partilha do que se experimentou. O Papa Francisco assim sintetizou: O teu coração sabe que a vida não é a mesma coisa sem Ele; pois bem, aquilo que descobriste, o que te ajuda a viver e te dá esperança, isso é o que deves comunicar aos outros (EG, n.121). Contudo, só comunica bem quem se deixa interpelar por aquilo que ouve e vê. É preciso, então, escutar com profundidade, para sanar aqueles anseios mais profundos da alma.
Viktor Frankl disse certa vez que é preciso escutar os gritos que saem dos porões da alma. Por isso, para se comunicar aquela vida, e vida em abundância (Jo 10,10) que o Senhor Jesus veio nos trazer, é imprescindível escutar com os ouvidos do coração. Um coração disponível para escutar e acolher, para dialogar e partilhar da própria vida é, sem dúvida um coração manso e humilde, que manifesta que a vida em Cristo cura, fortalece e humaniza (DAp, n. 356).
Estamos, no entanto, em uma sociedade que se acostumou a falar, a dar opinião sobre tudo, e tem se afastado da prática da escuta. Isso é um reflexo dos avanços tecnológicos e das redes sociais digitais, mas que deve ser pensado, uma vez que, para haver diálogo, sobretudo aquele que comunica a vida abundante da Trindade, faz-se mister a escuta. Urge trazer à tona uma profunda lei da realidade: a vida só se desenvolve plenamente na comunhão fraterna e justa (DAp, n. 359). Por isso, o dinamismo da partilha da Vida passa pelos processos de libertação integral, humanização, reconciliação e inserção social, e não na polarização de discursos que, ao contrário, oprimem, segregam e desumanizam.
Assim, o convite de Jesus é que nos tornemos comunicadores de vida plena, que converte pelo exemplo de uma acolhida incondicional, e se fortalece na doação de si mesmo. Os bispos latino-americanos e caribenhos assim sintetizaram: A vida se acrescenta dando-a, e se enfraquece no isolamento e na comodidade. De fato, os que mais desfrutam da vida são os que deixam a segurança da margem e se apaixonam pela missão de comunicar vida aos demais (DAp, n. 360). A força desse anúncio de vida será fecunda se, e somente se, o fizermos com estilo adequado, com as atitudes do Mestre, e tendo sempre a Eucaristia como horizonte e fonte de nossas vidas. E, ao caminharmos para o fim do tempo pascal, possamos clamar ao Espírito Santo para podermos dar o testemunho de proximidade que entranha proximidade afetuosa, escuta, humildade, solidariedade, compaixão, diálogo, reconciliação, compromisso com a justiça social e capacidade de compartilhar, como Jesus o fez (DAp, n. 363).
Equipe Arquidiocese em Missão
Arquidiocese de Montes Claros
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