Na liturgia o corpo inteiro reza. Os cinco sentidos são tocados e, a seu modo, nos conduzem à experiência com Deus. É comum ouvir das pessoas do interior, por exemplo, que a Semana Santa tem o “cheiro de chá”. Isso se deve, talvez, ao simples fato da utilização das ervas medicinais por ocasião do Domingo de Ramos, ou mesmo na decoração do esquife do Senhor Morto, em que, tradicionalmente, após a “procissão do enterro”, as pessoas veneram o Senhor e levam consigo as ervas como sacramental. Com isso, não faltam meios para que, através dos sentidos, esse itinerário quaresmal seja bem aproveitado.
Nesse percurso, a visão também é meio para experienciar o divino. Nas Vésperas do domingo que antecede ao Domingo de Ramos – 5º Domingo da Quaresma, as imagens são cobertas. Trata-se de um costume muito antigo (cf. Paschalis Sollemnitatis, n. 26), indicado pela Igreja no próprio Missal (p. 211): “Pode-se conservar o costume de cobrir as cruzes e imagens da igreja, a juízo das Conferências Episcopais. As cruzes permanecerão veladas até o fim da celebração da Paixão do Senhor, na Sexta-feira Santa. As imagens, até o início da Vigília Pascal”. Assim, é comum entrar nas igrejas neste tempo e ver cruzes e imagens cobertas. Mas por qual razão se faz isso? Qual o significado aplicado à vida dos fiéis? A resposta é simples: a Igreja quer nos conduzir ao centro do Mistério Pascal de Cristo.
Ao velar as cruzes, somos transportados para a contemplação da doação de Jesus no Calvário. A cruz se torna símbolo da vida, sinal de um amor que nela se manifesta. Por sua vez, as imagens, que nos transmitem a mensagem de que após a tribulação há a alegria da vitória por seguirmos a Cristo, recordam-nos não o luto, mas o sinal da sua solidariedade e íntima união com a Paixão do Senhor. Há nas imagens uma verdadeira catequese que grita para nós: há esperança!
Se a beleza nos leva a rezar, a privação dela nos remete ao essencial, faz-nos voltar o olhar para o centro de nossas igrejas: o altar. Nele, o memorial da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor é celebrado como mistério central da nossa fé, a Páscoa de Cristo, que, por sua vez, deve ser a fonte e o ápice de toda a vida cristã (cf. LG, n. 11). A própria nudez do altar, desde o final da Missa da Ceia do Senhor até a Vigília Pascal, recorda-nos a entrega total do Cristo, que no alto da cruz rasga o véu do Templo e faz brilhar a beleza da misericórdia divina.
Após esses dias que nos colocam em estrita ligação com a cruz do Senhor, valerá a pena ver os tecidos caírem aos poucos, nos revelando o mistério de tão grande amor. Pela cruz descoberta na Sexta-feira da Paixão recordaremos que há alguém que nos ama e se entregou por nós (cf. Gl 2,20). As imagens descobertas no começo da Vigília Pascal nos lembrarão a alegria daqueles que, com Cristo, também venceram a morte (cf. Ap 7,13-14). Aproveitemos, pois, este tempo, para direcionar a nossa vida a Cristo, e, por uma verdadeira conversão, na Páscoa, retirar o roxo da nossa penitência e revestir-nos do branco da ressurreição.
Equipe Arquidiocese em Missão
Arquidiocese de Montes Claros
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