Mais de quatro meses já se passaram desde o início da pandemia do novo coronavírus. Todos os dias acompanhamos, pelos meios de comunicação, debates e notícias, algumas cheias de esperança e outras que nos causam desânimo e apreensão. A COVID-19, outrora chamada de “gripezinha”, já ceifou a vida de mais de 80 mil brasileiros. O anúncio diário das mortes, às centenas, parece amainar nos corações a percepção da gravidade da situação. O dilema entre a importância do isolamento e a retomada do trabalho, paulatinamente, induziu ao afrouxamento das restrições. O resultado é palpável: o crescimento do número de infectados. A pandemia parece comportar-se diferentemente nos rincões do país. Mesmo com essas diferenças, mudanças comportamentais se impuseram. E vão permanecer ainda por um período razoável, pois a segurança de uma vacina demandará tempo para imunizar grande parte da população do Brasil e do mundo.
Nesse contexto, seis entidades assinaram e apresentaram, no último dia 7 de abril, Dia Mundial da Saúde, o “Pacto pela Vida e pelo Brasil”. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns, a Academia Brasileira de Ciência (ABC), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Sociedade Brasileira para o progresso da Ciência (SBPC) se uniram e dirigiram a palavra a todos os cidadãos brasileiros, como homens e mulheres de boa vontade. Com lucidez, o texto afirma: “A hora é grave e clama por liderança ética, arrojada, humanística, que ecoe um pacto firmado por toda a sociedade, como compromisso e bússola para a superação da crise atual. Como em outras pandemias, sabemos que a atual só agravará o quadro de exclusão social no Brasil. Associada às precárias condições de saneamento, moradia, renda e acesso a serviços públicos, a histórica desigualdade em nosso país torna a pandemia do novo coronavírus ainda mais cruel para brasileiros submetidos a privações. Por isso, hoje nos unimos para conclamar que todos os esforços, públicos e privados, sejam envidados para que ninguém seja deixado para trás nesta difícil travessia. Não é justo jogar o ônus da imensa crise nos ombros dos mais pobres e dos trabalhadores. O princípio da dignidade humana impõe a todos e, sobretudo, ao Estado, o dever de dar absoluta prioridade às populações de rua, aos moradores de comunidades carentes, aos idosos, aos povos indígenas, à população prisional e aos demais grupos em situação de vulnerabilidade. Acrescente-se ao princípio da dignidade humana, o princípio da solidariedade – só assim iremos na direção de uma sociedade mais justa, sustentável e fraterna”.
Esse apelo das entidades citadas há de ecoar em todo o país. Aos gestores públicos cabe a urgente tarefa de aplicar com lisura e transparência os recursos públicos destinados, especialmente, para a área da saúde. Os cidadãos precisam acompanhar a aplicação desses recursos. É a dimensão macro do Pacto pela Vida e pelo Brasil. Há outra menor, nem por isso dispensável ou de menor importância, e que está ao alcance de cada brasileiro. Trata-se de fazer todo esforço pessoal no cuidado com a higienização e evitando qualquer forma de aglomeração. Essas medidas estão ao alcance da maioria da população. É o caminho mais curto em favor da Vida e do Brasil.
+ João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo Metropolitano de Montes Claros
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