Estamos vivendo a Semana Santa, e, hoje, de maneira especial aquele momento do Tríduo Pascal que representa a noite escura da fé. Há um silêncio que se encontra entre as chagas abertas e sangrantes do corpo padecente de Jesus e o alvorecer da nova criação, resplandecente e gloriosa, que mais à noite celebraremos. Nesse período em que a cruz ainda está vívida em nossa memória, que o pranto transborda, e as lágrimas escorrem de nossos olhos, vale recordar as palavras do próprio Jesus: Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados (Mt 5,4).
A fé cristã é marcada pela esperança. Não uma esperança desligada da historicidade, mas aquela que é capaz de compreender que pelas chagas somos curados (cf. Is 53,5; 1Pd 2,24). Ao longo da nossa peregrinação terrestre vamos sendo marcados pelas contingências de nossa existência. Não podemos nos esquivar das feridas de nossa história. A ressurreição não tira a dor da cruz, não esvazia e priva das feridas, mas ensina-nos a dar-lhes um novo significado. A lógica do Senhor faz-nos ver, na cruz em que Cristo está morto, a árvore da vida, guardada por Deus no jardim do Éden até o momento oportuno. Eis o fruto dessa árvore: o Cristo Redentor, pendente do madeiro!
Iniciando o tempo pascal, somos chamados a decantar em nós os eventos deste tríduo. Urge nos perguntarmos sobre qual caminho devemos tomar para sermos testemunha da esperança em meio a um mundo de crucificados. É bem verdade, nos lembra frei Carlos Mesters, que é olhando para o corpo desfigurado na cruz que podemos dizer: verdadeiramente este homem é um filho de Deus (Mt 27,54). O testemunho é dado do alto da cruz, nos sofrimentos cotidianos, em que, como a cana, se é capaz de dar doçura mesmo quando esmagados (Dom Hélder Câmara).
Chegou a hora de sermos testemunhas dessa Esperança! Esperança num mundo novo, numa humanidade mais justa e fraterna, em um novo modo de nos relacionarmos com Deus e toda a sua criação. Somos enviados como missionários da esperança e da vida em um mundo de morte, de dor, de incredulidade e de fomes. Fomes, no plural, porque falta pão às mesas, falta amor e doação nas relações, faltam justiça e misericórdia nas políticas públicas. Enfim, falta fraternidade! Devemos ser testemunhas que indicam ser possível outra vida, um modo novo de se viver neste mundo.
Transforma o meu pranto em dança é o título de uma obra do Henri Nouwen, que resume bem a oração e a mensagem que devemos trazer nos lábios após a Ressurreição. Acreditamos e seguimos um Deus que é capaz de transformar o caminho da cruz em caminho de luz, situações de desolação em crescimento e consolo, de morte em vida nova. Esse é o verdadeiro Aleluia que vamos gestando neste tempo que se inicia. Bradamo-lo com os olhos brilhando de lágrimas, mas irradiando a graça do Infinito. Nele vamos fortificando nossa fé e nossa esperança, a fim de que, em Pentecostes, quando estivermos firmes, possamos manifestar ao mundo as razões de nossa esperança (cf. 1Pd 3,15).
Ser missionários da esperança, portanto, é mostrar ao mundo que o Deus que ressuscitou Jesus Cristo é capaz de fazer o mesmo com cada um que se abre à graça de repousar Nele o seu espírito. Esse é capaz de escutar Dele: bem-aventurado és tu, quando choras, porque ilumina o seu olhar com esperança, clareia para ti a tua vida, nasce para ti um novo dia! Seu pranto agora é transformado em dança, em vida, em alegria, em glória e aleluia, em ressurreição.
Equipe Arquidiocese em Missão
Arquidiocese de Montes Claros