A celebração da solenidade de Corpus Christi nos leva a refletir sobre este grandioso sacramento, que o Concílio Vaticano II nos afirmou ser fonte ápice de toda a vida cristã. Contudo, a dimensão que primeiro se salienta da Eucaristia, segundo São João Paulo II (cf. MND n.15), é a de banquete. Evoca a derradeira refeição do Divino Mestre com os seus, antes de sua entrega na cruz. Ali, naquela mesa, Ele dá aos comensais um alimento que nutre, mas que aumenta a fome. Uma bebida que inebria de lucidez, mas aumenta a sede. Todavia, fome e sede de quê? Este salutar alimento nos faz rezar com um testemunho vital que clama, como um rasgo em meio à desértica multidão de injustiças, venha a nós o vosso Reino (cf. Mt 6, 10).
Se nesta mesa tomamos parte, é porque na partilha do Pão reconhecemos o Senhor Ressuscitado. Bendito o Ressuscitado, Jesus vencedor. No pão partilhado a presença Ele nos deixou (Zé Vicente). Os discípulos de Emaús, ao reconhecerem o Senhor na partilha do pão, saíram apressados. Ao experimentarmos, como eles, dessa divina presença, urge em nossos corações o desejo de que outros também experimentem. Na mesa do Reino existem muitos lugares, não se faz distinção de pessoas, pois o Senhor acolhe a cada um com sua história.
O compromisso social que brota do Sacramento da Eucaristia diz respeito, também, ao acolhimento daqueles que margeiam a sociedade, por qualquer aspecto que seja de sua condição. O Senhor preparou um banquete. Ó famintos de amor acorrei. O cordeiro já foi imolado, vinde todos, tomai e comei (Maria de Fátima de Oliveira/André Zamur). Quantos são aqueles que do amor não fizeram a experiência. A esses, discriminados, marginalizados, somos impelidos a levar deste amor que nos seduziu e nos venceu.
Com isso, pode-se remeter a uma das definições para o termo adoração (adoratione): ato intenso de amar. O ato de adorar poderia, então, remeter ao tomar parte do projeto do Reino? Certamente, para tal, a adoração deve acontecer não somente com joelhos dobrados, mas, também, com as mãos estendidas àqueles que se encontram marginalizados pela sociedade. O próprio Jesus Cristo afirma que no serviço aos mais pequenos se encontra o serviço à Ele (cf. Mt 25,31-46). À medida que os corações ao alto se elevam, também os pés no chão devem caminhar ao encontro dos irmãos.
O Pão Eucarístico aumenta em nós a fome e a sede de amor. Não porque nos falta, mas porque aquele que ama aspira eternidade. Paradoxalmente, a Eucaristia nos preenche e nos desinstala, pois não permite que nos encerremos em uma paz vazia. Ela nos inquieta frente às adversidades do mundo. Comungar é tornar-se um perigo (Antônio Cardoso). Um perigo àquilo que não corresponde ao amor. Celebrar a Eucaristia é querer comprometer-se com o projeto do Reino de Deus. E isto exige entrega e saída de si, enxergando no outro Aquele que constantemente nos atrai.
A Eucaristia nos leva a um compromisso real na edificação duma sociedade mais equitativa e fraterna (cf. MND n.28). Naqueles que mais necessitam, e que, aparentemente, nada podem nos dar em troca, é que fazemos jus ao sacramento celebrado. Suas vidas nos provocam a eucaristizar o mundo. Nos provocam a querermos ser, também nós, pão que alimenta. Ao Senhor voltamos nossos corações, para d’Ele aprendermos a ser pão. Tu que és o Pão da vida […] diz-me como ser pão (Salomé Arricibita). A vida do que se abrem ao mistério da Eucaristia torna-se oblação no serviço dos mais necessitados.
Equipe Arquidiocese em Missão
Arquidiocese de Montes Claros
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