O tempo pascal prolonga-se até a festa de Pentecostes. Particularmente nesse tempo, o anúncio do Ressuscitado ecoa na pregação da Igreja. Nós, cristãos, vivemos deste mesmo e único mistério: “Deus o constituiu Senhor e Cristo, este Jesus a quem vós crucificastes” (At 2, 36). Sabe-se, no entanto, que embora proclamando o mesmo núcleo da fé cristã e professando-se discípulos do Senhor, os cristãos dolorosamente se dividiram em diferentes denominações. Diante das divisões, não faltou o empenho de muitos pela “reintegração da unidade”. Esse é o grande sonho do movimento ecumênico, iniciado por outras Igrejas e acolhido pelo Concílio Vaticano II (1962-1965), que o compreendeu como o conjunto das “atividades e iniciativas suscitadas e ordenadas em favor das várias necessidades da Igreja e oportunidades dos tempos, no sentido de favorecer a unidade dos Cristãos” (Unitatis redintegratio 4). O Concílio explicitou que a conversão do coração e a santidade de vida, junto com a oração comum, são como a “alma do movimento ecumênico”.
Nesse mesmo sentido, São João Paulo II escreveu para toda a Igreja, em 1995, a Carta Encíclica Ut Unum Sint sobre o empenho ecumênico. Não hesitou em afirmar que “a Igreja Católica assume o compromisso ecumênico como um imperativo da consciência cristã, iluminada pela fé e guiada pela caridade” apontando o caminho ecumênico como o caminho da Igreja (UUS 7). Abrindo horizontes para esse compromisso ecumênico, ele afirmou: “Avança-se pelo caminho que conduz à conversão dos corações ao ritmo do amor que se dedica a Deus e, ao mesmo tempo, aos irmãos: a todos os irmãos, inclusive àqueles que não estão em plena comunhão conosco. Do amor nasce o desejo de unidade, mesmo naqueles que sempre ignoraram tal exigência. O amor é artífice de comunhão entre as pessoas e entre as Comunidades. Se nós amamos, tendemos a aprofundar a nossa comunhão, a orientá-la para a perfeição. […] O amor é a corrente mais profunda que dá vida e infunde vigor ao processo que leva à unidade. Este amor encontra a sua expressão mais acabada na oração em comum” (UUS 21).
O imperativo cristão do amor – “Nisto reconhecerão todos que sois os meus discípulos: se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13, 34) – está em perfeita sintonia com a oração de Jesus: “Que todos sejam um” (Jo 17, 21). A exigência, pois, que se impõe é de que o verdadeiro amor pelos irmãos se projete no desejo de construção da unidade. Em decorrência, compreende-se por que o ecumenismo não se trata de uma estratégia, mas de uma espiritualidade. Quem não beber da fonte do Evangelho e não se alimentar do sonho de Jesus dificilmente compreenderá o estreito vínculo entre a prática do amor e a construção da unidade.
Uma oportunidade muito especial de orar pela unidade, mas também de orar junto com irmãos e irmãs de denominações cristãs diferentes, nos é oferecida a cada ano no contexto do tempo pascal. Trata-se da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, semana que antecede Pentecostes, festa do Espírito Santo, o protagonista primeiro da unidade. Cada católico deveria comprometer-se de alguma forma a participar da Semana de Orações nas paróquias, comunidades, escolas ou mesmo em sua própria família. Antes de tudo, amemos nossos irmãos e veremos crescer em nós o desejo pela unidade.
+ João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo Metropolitano de Montes Claros
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