No próximo Domingo, 3º Domingo da Páscoa, a Igreja nos convida, em sua Liturgia, a refletirmos sobre a passagem dos Discípulos de Emaús (Cf. Lc 24, 13-35), sendo um dos mais belos relatos bíblicos, exclusivo do evangelista Lucas. É uma história que se inicia e termina “a caminho”. O relato bíblico em questão, ambientado no dia de Páscoa, começa descrevendo o retorno de dois discípulos para o pequeno e pacato vilarejo de Emaús, situado nas proximidades de Jerusalém. Aqui, surge uma indagação: o que Emaús tem a nos ensinar?
A primeira informação que salta aos olhos é que tais discípulos foram alcançados pela desilusão e tristeza, decorrentes da não compreensão do ocorrido com Jesus e, também, da demasiada expectativa que haviam criado; os dois peregrinos cultivavam uma esperança meramente humana que, agora, estava em ruínas. A Cruz erguida no Calvário “era o sinal mais eloquente de uma derrota que não tinham previsto. Se deveras aquele Jesus era segundo o coração de Deus, deviam chegar à conclusão que Deus estava inerme, indefeso nas mãos dos violentos, incapaz de opor resistência ao mal” (Papa Francisco – Audiência Geral em 24/05/2017).
Em vista disso, naquela manhã, marcada pela desolação, eis que esses dois discípulos decidem deixar Jerusalém, para ir a uma aldeia tranquila: Emaús. Pode-se dizer que Emaús é um lugar/condição existencial que, em nossa caminhada cristã, estamos sujeitos a passar. Por isso, é válido saber: em um primeiro momento, Emaús é um caminho que significa regresso à antiga vida, perda de sentido, sendo consequência de decepções, frustações por expectativas criadas – “Nós esperávamos que… mas…” (Cf. Lc 24, 21); no entanto, Emaús também simboliza a possibilidade de um novo recomeço, lugar de reencontro, de ressignificação, de regresso ao ponto de partida do seguimento: a experiência pessoal com Jesus – “não ardia o nosso coração” (Lc 24, 32).
No caminho, inicialmente permeado pela tristeza, Jesus os alcança e se coloca a caminhar com eles. Jesus anda ao lado dos discípulos como um estrangeiro e desconhecido, sendo condição sine qua non para o seu reconhecimento o deixar-se guiar por Ele na releitura da palavra de Deus e na partilha à mesa, na fração do pão. Na releitura da Palavra, Jesus, através de um diálogo terno e afetuoso, os leva a fazer memória, a trazer ao coração a experiência outrora feita com Ele e, em consequência, a dar um salto na fé: deixar a dúvida decorrente das falsas expectativas e passar para a certeza da presença do Senhor Ressuscitado, que os acompanha pelo caminho.
Este belíssimo diálogo conclui-se com o convite dos discípulos a Jesus que, até então, não havia sido reconhecido por eles: “permanece conosco” (Lc 24, 29). Adentrando na casa, “e uma vez à mesa com eles, tomou o pão, abençoou-o, depois partiu-o e o deu a eles” (Lc 24, 30). Na Fração do Pão, gesto fulcral de cada Eucaristia celebrada, “acontece com eles, ao contrário, aquilo que Adão e Eva experimentaram comendo o fruto da árvore do conhecimento: os olhos se abrem” (Bento XVI – In: Introdução ao Espírito da Liturgia, 2014, p.103). A partir daí eles não mais veem apenas a exterioridade, mas veem aquilo que escapa aos sentidos e, ao mesmo tempo, por meio dos sentidos se permite transparecer: É o senhor! Aquele que vive de um novo modo.
Portanto, o importante é percorrer até o fim o caminho que leva ao reconhecimento de Jesus, ou seja, a escuta da palavra, que transforma o coração e restitui a visão, e o partir do pão em comunidade. O segredo da estrada que nos conduz a Emaús sintetiza-se na compreensão de que “mesmo através das aparências contrárias, continuamos a ser amados, e Deus nunca deixará de nos querer bem. Deus caminhará sempre conosco, sempre, até nos momentos mais dolorosos, nos períodos mais difíceis, também nos momentos de derrota: ali está o Senhor. E esta é a nossa esperança” (Papa Francisco – Audiência Geral em 24/05/2017).
Equipe Arquidiocese em Missão
Arquidiocese de Montes Claros