O contexto hodierno está mergulhado em polarizações e oposições, e nem mesmo a comunidade eclesial encontra-se imune. São inúmeros os pontos de vista que são manifestados em diversos campos, muitas vezes veiculados sem nenhum movimento de acolhida, apenas por um desejo de expressar-se. Sem filtrar as consequências, estes pontos de vista podem gerar discórdias e divisões. Com isso, urge a necessidade de uma comunicação que não fira, mas que parta do coração. Uma comunicação que não diga respeito apenas aos agentes de informação em seus diversos meios, mas a todos. Comunicar faz parte da vida de todos, porém deve ser responsabilidade de cada um.
Falar cordialmente é recordar que “gentileza gera gentileza”, num ciclo virtuoso que tem a capacidade de transformar aqueles cuja comunicação alcança, em qualquer meio. Como assegura-nos o Papa Francisco em sua mensagem para o 57º Dia Mundial das Comunicações Sociais: “gentileza não é questão apenas de ‘etiqueta’, mas um verdadeiro antídoto contra a crueldade, que pode, infelizmente, envenenar os corações e intoxicar as relações”. Compreende-se, portanto, que a comunicação, seja ela interpessoal ou midiática, não necessita utilizar expressões sensacionalistas e agressivas, pormenorizando o outro para conquistar o seu espaço. Mesmo uma correção feita com caridade pode favorecer que o outro a compreenda e a acolha sem se machucar. Ou seja, é possível, sim, comunicar com amor.
Hoje, para amenizar dores e inúmeros transtornos causados por uma comunicação fria, ausente de amor e de preocupação com outrem, “é tão necessário falar com o coração para promover uma cultura de paz onde há guerra; para abrir sendas que permitam o diálogo e a reconciliação onde campeiam o ódio e a inimizade. No dramático contexto de conflito global que estamos a viver, urge assegurar uma comunicação não hostil” (Papa Francisco, Mensagem para o 57º Dia Mundial das Comunicações Sociais). Nitidamente notamos o quanto ainda precisamos nos capacitar, para fazer da comunicação uma missão para o amor. “Para se poder comunicar testemunhando a verdade no amor, é preciso purificar o próprio coração” (Papa Francisco, Mensagem para o 57º Dia Mundial das Comunicações Sociais).
Saint Antoine Exupéry, na célebre obra “O Pequeno Príncipe”, afirmou que “Só se vê bem com o coração”. Tinha ele razão! Quando se faz um movimento de alteridade, colocando-se no lugar do outro, não só vendo, mas falando com o coração, o anúncio da verdade pode soar como um ato de amor, de compaixão. Daí, urge purificar o coração para um anúncio que não gere transtornos e nem conflitos, mas, numa perspectiva sinodal, seja capaz de falar “testemunhando a verdade no amor” (cf. Ef 4,15), comunicando com o coração.
Pe. Cleydson Rafael Nery Rodrigues
Equipe Arquidiocese em Missão
Arquidiocese de Montes Claros