Artigos de Dom João Justino

Férias e descanso

O mês de janeiro é comumente identificado como próprio para férias, sobretudo, escolares. Vivemos em um país de clima predominantemente tropical e, no verão, o sonho de férias se confunde com praias, cachoeiras e montanhas. Nada mais sugestivo para indicar tempo de repouso que água e ar puro. É tudo o que pessoas cansadas pelo longo tempo de trabalho precisam para se revitalizar. Férias são uma necessidade humana e não um artigo de luxo.

A sociedade hodierna é marcada pelo trabalho incessante e pela exacerbação das atividades, lúdicas, inclusive. Desse frenesi do ritmo urbano nasceu um tipo de reação psíquica e orgânica chamado stress. Até mesmo crianças reclamam de stress, especialmente quando submetidas a um regime exaustivo que soma às aulas regulares outras atividades como academia, esportes, cursos de idiomas, de dança, aulas de música, para citar alguns exemplos. Jovens e adultos começam o dia nas academias, que funcionam desde as primeiras até as últimas horas do dia. Há supermercados, drogarias, postos de gasolina “24 horas”. Festas terminam com o café da manhã. Agências oferecem pacotes de viagens com programações extenuantes. Há aqueles que sofrem de ansiedade ao pensar que não têm o que fazer num domingo comum. O ser humano contemporâneo parece desconhecer o que vem a ser o ócio como experiência fecunda de criação.

Ora, o necessário descanso toca diversas e importantes dimensões da vida. A dimensão físico-corpórea é, talvez, a mais imediatamente percebida. Nossos corpos são frágeis. Gastamos energias e envelhecemos. Se não praticamos exercícios, perdemos muito da elasticidade dos músculos e da pele. Os especialistas repetem sobre a importância da atividade física para a manutenção de uma vida saudável. O próprio sono recompõe energias e ajuda no equilíbrio das emoções. O silêncio contribui para o relaxamento e a recuperação das formas de percepção da pessoa.

Do ponto de vista existencial, férias e descanso têm relação com a liberdade de deixar que o outro continue meu trabalho. E que o outro faça a seu modo. Muitos não conseguem “sair” de férias, porque entendem que ninguém pode “entrar” no espaço de seu trabalho. Tornam-se escravos do ofício, produzem menos, sofrem muito e não gozam das alegrias de sair e retornar de férias.

O descanso tem, ainda, uma dimensão religiosa muito interessante. Com efeito, na bíblia sagrada encontra-se no livro do Gênesis a narrativa da criação, com o detalhe do descanso do Criador no sétimo dia. O sábado tem uma dimensão de alegria, de gozo e de louvor pela obra realizada nos dias anteriores. A semana da criação termina com o descanso de Deus. As teologias judaicas e cristãs consideram a dimensão sabática como fundamental para a experiência da criatura, que muito pode, mas não pode tudo. E a demanda pelo descanso é o acento para marcar a condição de finitude do ser criado. Não somos deuses. E até Deus – que não tem razões para se cansar ou descansar – descansou!

Por esses motivos e por outros, encontre uma forma de desfrutar de férias. Em janeiro ou em outro mês, conceda a si mesmo o tempo de desligar-se da rotina do trabalho, mesmo doméstico, para contemplar outros horizontes, escutar experiências diferentes, degustar novos sabores, tocar texturas nunca imaginadas, tirar os calçados e pisar a terra, que um dia nos acolherá para a passagem ao descanso definitivo.

João Justino de Medeiros Silva – Arcebispo Metropolitano de Montes Claros

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