O povo norte-mineiro sempre demonstrou especial devoção à figura de Maria, sempre recorrendo a ela em suas diversas necessidades. Constatamos com alegria que Maria continua sendo sinal de maternidade e ternura da Igreja ao povo de nosso território arquidiocesano (DAEAM n.66). Não se faz difícil ouvir nas orações a jaculatória “ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós”. Aquela que foi redimida por Deus de maneira singular é invocada de modo confiante pelo povo congregado pelo seu filho. Nela todos encontram um seguro porto durante as tempestades da vida. Um alento em meio às incoerências deste mundo. Fortaleza para enfrentar os obstáculos do caminho. Sua vida, entregue à concretização dos planos divinos, indica que o segredo da bem-aventurança se encontra em uma vida consumida no serviço do Evangelho.
Hodiernamente, a devoção à Virgem Maria deve ser vista a partir da cidade. A contemporaneidade se apresenta como uma realidade de constante urbanização, que alcança um grande número de pessoas, até mesmo aquelas que não vivem nos grandes centros urbanos. Uma realidade em que as dificuldades aumentam, já que assumem uma nova proporção, em que a cultura dominante é a do descarte, não somente de objetos, mas também de seres humanos. As relações são efêmeras, nada é feito para durar. A mobilidade e a pluralidade das cidades expressam um novo jeito de ser das pessoas. Em uma sociedade sem muitas referências, Maria permanece como seguro modelo de discípula-missionária. Isso indica que a devoção mariana deve se tornar a Escola de Maria. A prática pastoral, diante da veneração que o povo tem pela Virgem, deve ser a de aprender dela o seu jeito de viver. Isto se aplica aos ministros ordenados, aos consagrados, aos leigos, e a todos aqueles que estão fora do seio eclesial. Todos podem aprender com Maria. Além disso, ela nos inspira a fomentar em nosso meio uma cultura vocacional.
Em seu chamado-resposta, ela dá início ao novo povo de Deus, reunido pelo seu Filho. Ela, como Abraão, faz uma entrega total, e semelhante a ele, também oferece seu próprio Filho no templo, oferecimento este que culminará no calvário. Maria não se faz uma comum cumpridora de leis, mas se eleva como modelo de aceitação da vontade e do projeto de Deus. Ao ouvir do anjo a vontade do Senhor, Maria se mostra inteiramente disponível e obediente. Prontamente, se mostra ousada na fé, correspondendo positivamente ao anúncio do anjo. A fé de Maria e sua perseverança dão frutos que, como no cântico que ela entoa ao se encontrar com Isabel, perdurarão por todas as gerações que lhe sucederem.
O discípulo é aquele que se coloca a caminho com o mestre. Caminho esse tomado de altos e baixos, marcado por crises e bonanças. Maria como perfeita discípula, ao longo de sua vida, se põe a caminho. E, ao encontrar-se diante dos reveses da caminhada, se demonstra pronta para crescer na sua adesão a Deus. Nesse sentido, Maria não se coloca no centro, mas sim como seguidora, atenta aos desígnios do Pai. Ainda que não compreendesse tudo, cumpriu sua missão de mãe de Jesus e por ele foi feita, também, mãe dos seus discípulos. Celebrar a solenidade da Imaculada Conceição de Maria é uma oportunidade de mergulharmos no exemplo de simplicidade, de escuta da Palavra e de entrega daquela que foi escolhida pelo Senhor para a consolidação de seus sonhos. Efetivamente, a devoção de nosso povo a Maria deve ser fonte profética de inspiração para a construção de uma sociedade que rompa com a cultura da marginalização e do descarte. E, ainda mais, ser fonte para a formação de pessoas com ouvidos de discípulos, capazes de escutar e responder, diligentemente, ao Mestre que chama.
Equipe Arquidiocese em Missão
Arquidiocese de Montes Claros