Profeta é quem profere ou comunica algo para o bem dos outros. Na Bíblia temos a apresentação de muitos deles, até dando nome a livros ou escritos contidos nessa palavra divina.
Temos profetas fora da inspiração ou revelação bíblica. Muitos personagens humanos têm sido inspirados por Deus para falar com seu exemplo de vida, até dando a própria vida como testemunho de sua mensagem ou valor humano defendido por eles. São pessoas que têm ajudado a história humana a convergir para a busca de sentido em sua missão na terra. Muitas vezes tais profetas não são compreendidos nem aceitos em seus valores vividos e anunciados. São pessoas que contrariam interesses escusos de indivíduos e grupos mal intencionados ou mal orientados.
Vivemos no Brasil e em várias outras partes do mundo, uma verdadeira crise ética e de valores morais. Precisamos de mais profetas que defendam o que justo, honesto e solidário. Para isso, a formação para os valores da dignidade humana é fundamental. Muitos têm medo de se exporem. Embora sendo éticos, falta-lhes o profetismo. Este não é apenas o dizer a verdade, mas criar mecanismos para se defender e promover a real cidadania para todos. Esse trabalho tem mais respaldo quando se unem pessoas em torno de causas que ajudem a tal finalidade. Aliás, é preciso promover a consciência geral do povo para se manifestar ordeiramente em bem de causas que valorizem o bem comum, a vida e a dignidade humana.
Estamos no ano do laicato, promovido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A vocação do leigo e da leiga na Igreja os faz profetas em seu meio, ou seja, na família, no trabalho, na Igreja e na sociedade. Dentre as atividades humanas, é de fundamental importância que os leigos ajudem a comunicação, a educação e a política a serem instrumentos de mais promoção da cidadania, com a defesa da verdade, da justiça e do trabalho de promoção do interesse de toda a sociedade. O desfoque desses valores deturpa-os e seu enunciado se torna inócuo.
Os verdadeiros profetas são os que defendem a verdade, a justiça, a ética e o bem comum, mesmo se não forem compreendidos e até forem rechaçados. Mas certamente serão valorizados e defendidos por quem tem essas mesmas virtudes ou esses valores. As pessoas de bem os compreendem e apoiam. O verdadeiro profeta é valorizado por Deus: “Eu mesmo pedirei contas a quem não escutar as minhas palavras que ele pronunciar em meu nome” (Deuteronômio 18,19).
A profecia não é baseada em ideologia e sim num valor inerente à verdade, à defesa da dignidade humana e do bem comum. Na revelação divina temos a maior clareza dessa verdade. O próprio Jesus a mostra com nitidez e autoridade absoluta. Quando há infração da mesma, sua palavra se dá com toda a força. Contrariá-la é ir contra Deus. O profetismo não se opõe ao bem, cuja fonte é o Criador. Ao contrário, só pode defender o bem.
José Alberto Moura, CSS – Arcebispo Metropolitano de Montes Claros, MG