São as águas de março fechando o verão

A vida humana é marcada por ritmos e ciclos. Tudo se desenrola com uma cadência dada por diversos fatores. Um olhar sensível percebe a poesia que costura os enlaces e desenlaces da história. O nosso calendário é dividido em meses, semanas, dias. No ano temos várias estações. Na liturgia há uma cadência de tempos que, mistagogicamente, nos levam a vivenciar o mistério pascal de Cristo. Há, também, momentos de parênteses, em que forças são revigoradas para que haja a continuidade do que se está vivendo. E isso se dá desde o âmbito pessoal, alcançando, até mesmo, o litúrgico. Com efeito, a harmonia da história tem muito a nos ensinar.

O mês de março vai se dirigindo para seu desenlace. Mês marcado pelo tempo forte da quaresma, longo retiro anual que fazemos em preparação para a Páscoa. Com Jesus vamos ao deserto para, crescendo na intimidade com ele, aprofundarmo-nos no processo de conversão. Nele também somos presenteados com duas pausas na penitência quaresmal, celebrando as solenidades de São José e da Anunciação do Senhor. Além disso, março assiste o desfecho do verão e o prelúdio do outono, como lembrou o artista brasileiro Tom Jobim, “são as águas de março fechando o verão”.

Os tempos de desertos, de outonos e invernos, devem ser para nós oportunidade de gestar tempos novos na nossa existência. Recordando, ainda, Tom Jobim, as águas de março nos lembram da promessa de vida em nossos corações. É preciso fazer das chuvas oportunidade para se plantar a semente, que permanece em latência, até o momento de se desabrochar em vida e fecundidade.

As flores das quaresmeiras vicejantes, que anunciaram o tempo que estamos vivendo, começam a cair. A natureza, timidamente, se coloca em latência. É bonito perceber que nas estações que se seguem, outono e inverno, a vida continua lá. Em mais um ciclo, a criação se prepara para a explosão de cores da primavera, e, no caso de nosso cerrado, para a abundância de frutos no verão. Enfim, a poesia com que a criação se movimenta ensina-nos a mesma leveza necessária para vivermos a cadência de ciclos das nossas vidas.

Equipe Arquidiocese em Missão
Arquidiocese de Montes Claros