Eis que estamos caminhando para o término da Quaresma e prelúdio da Semana Santa, centro e coração de todo o ano litúrgico. Nesta “Semana Maior” de nossa fé, somos convidados a celebrar o amor extremo que Jesus manifestou em sua morte, dando a sua vida por nós e, sobretudo, em sua ressurreição dentre os mortos – a escola de misericórdia, pois convida à reconciliação e ao perdão dos inimigos.
A intuição joanina contida em Jo 13,1 coloca-nos em íntimo contato com a essência do Mistério Pascal de Cristo: a radicalidade do amor feito solidário à toda humanidade. O mistério Pascal (Vida, Paixão, Morte e Ressurreição) nos recorda o itinerário percorrido por Jesus, confirmando tudo o que Ele disse e anunciou. Jesus tem a consciência de ter vindo à existência humana para “dar a vida pelos seus amigos” (Jo 15,13), não havendo maior prova de amor do que esta. Tal é o amor de Deus para com o ser humano: é amor salvífico; amor que excede toda a lógica humana.
Quando Deus se torna homem em Jesus de Nazaré, ele não somente entra na finitude do homem, mas, em sua morte na cruz, também entra na situação do abandono do homem por Deus. Deus manifesta-se na impotência de quem expõe-se ao mal e submete-se ao sofrimento como qualquer ser humano. Ele não corresponde ao desejo humano de querer fazer desaparecer todo o mal e sofrimento, antes mostra que não quer o mal e revela que sofre com cada ser humano. A cruz é como que um toque do amor eterno nas feridas mais dolorosas da existência terrena do homem” (Cf. Carta Encíclica Divis in Misericordia, 1980). Deus é assim, identifica-se com o ser humano até nas profundezas de seu abismo e, ao mesmo tempo, preenche o abismo insondável da separação humana de Deus e dos outros com a sua própria autocomunicação amorosa e, assim, faz de si mesmo perdão e reconciliação para os seres humanos.
Portanto, o mistério pascal de Cristo é o ponto culminante da revelação e atuação da misericórdia divina, sendo capaz de justificar o homem, e de restabelecer a justiça como realização do desígnio salvífico que Deus, desde os primórdios, tinha querido realizar no ser humano, e, por meio deste, no mundo (Cf. Carta Encíclica Divis in Misericordia, 1980). Em outras palavras, Jesus, em sua obediência, até a morte de Cruz, conduz novamente a humanidade em direção à união com Deus e, em consequência, torna-nos partícipes da vida eterna.
Ao término desse tempo quaresmal e prestes a iniciarmos a Semana Santa, roguemos a Deus a graça de que, “corrigidos pela penitência e renovados pelas boas obras, possamos perseverar nos vossos mandamentos e chegar purificados às festas pascais” (Oração da coleta da quinta-feira da 4ª semana da quaresma). Amém!
Equipe Arquidiocese em Missão
Arquidiocese de Montes Claros
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