A profecia deve ser parte integrante de toda ação eclesial. Faz parte da resposta livre dada no ato de fé, que é resposta a um chamado divino. “A fé é a resposta do homem a Deus, que a ele Se revela e a ele Se oferece” (CIC 26). O profeta, então, é alguém que, em na sua liberdade, acolhe a vontade de Deus e a põe em prática. Se torna, assim, uma pessoa que incomoda por mostrar a todos e a cada um aquilo que é preciso ser feito para se encontrar o caminho certo. Cristo, ressuscitado, transmite à sua Igreja o seu Espírito, que a fortalece em sua missão profética, capacitando-a para ser sua testemunha, se preciso, com o martírio.
A figura de João Batista, precursor de Jesus Cristo, encarna a imagem de uma vida profética. A sua presença já falava por si. Com seu modo de vida austero, testemunhava aquilo que bradava: não é preciso muito, pois o dia do juízo está às portas. É preciso abrir mão de tudo aquilo que não é essencial para se alcançar a salvação. A fidelidade ao seu chamado o fez ter a vida ceifada, sendo martirizado por aqueles que incomodou com sua pregação. Derramou seu sangue testemunhando o compromisso de fé que havia assumido. Assim, o último ato profético dele foi o testemunho martirial. Entretanto, deve-se lembrar que toda sua vida foi um longo processo de martírio, pelo qual, na sua radicalidade, cumpriu seu chamado.
O estilo profético de anúncio, desse modo, tem a peculiar característica de conformação entre a palavra proclamada e a vida do profeta. Aquele que porta a mensagem divina se vê completamente envolvido por ela. Sua própria vida se torna mensagem profética. O anúncio do Reino, para o qual a Igreja existe (LG, n. 5), é necessariamente profético. Compromisso eclesial de todo batizado. A missão de anunciar o Reino lança os discípulos em um panorama em que preocupações futuras devem ser esquecidas (cf. Lc 10, 1-12). É exigido daquele que anuncia desprendimento, pobreza, oblatividade. Em outros termos, a pregação do Reino passa pela vivência profética dos valores anunciados. Aquele que é enviado para a missão de anunciar o Reino já encarna e experimenta na sua vida os sinais que prega com a sua boca. Peçamos, pois, ao Senhor, uma porção do espírito profético de João Batista, para cumprirmos bem, com coragem, a nossa missão de discípulos anunciadores da Boa Notícia do Reino.
Padre George Luís Cardoso Silva
Equipe Arquidiocese em Missão
Arquidiocese de Montes Claros