Neste 30 de maio de 2023, celebro 30 anos de ministério presbiteral. Parece muito se contamos de 1 a 30, mas tudo parece tão recente, num dia de ontem, numa bela manhã de Pentecostes, como naquele dia bendito de minha ordenação. As memórias daquele dia estão tão presentes e vivas que resistem a pensar que já se passaram três décadas. Lembro-me do convite da ordenação, das pessoas presentes, dos cantos, dos testemunhos dados em meu favor, das vestes litúrgicas, da pregação do bispo, das minhas lágrimas, da lembrancinha da ordenação, do almoço depois… Meu Deus! A gente nunca esquece os eventos marcantes e decisivos da vida! Pelo menos não deveríamos esquecer. Eu não esqueci. Parece que foi há pouco.
O bispo que me ordenou presbítero também me ordenou diácono e foi um dos consagrantes na minha ordenação episcopal, Dom Belvino. Uma coroa bonita de sacerdotes apertava-se no presbitério da Matriz da Piedade, em Itaúna, onde eu recebi a primeira catequese, a comunhão eucarística, a crisma e de onde fui enviado ao seminário menor, em 1983. Há 40 anos, portanto. Só não fui batizado lá porque ainda não existia aquela paróquia em 1968. Daqueles sacerdotes ali presentes na ordenação, muitos estão, ainda hoje, em plena atividade, outros no céu, outros – até aqui cinco! – tornaram-se bispos. Eu, dos padres presentes naquela celebração, sou o sexto bispo. Acho que outros não foram chamados ainda. Ainda!
Tudo belo, tudo vermelho, tudo florido, era domingo de Pentecostes. Ali era o ponto culminante, mas penúltimo, de um processo formativo. Culminante porque concluía a formação inicial no seminário. Penúltimo porque essa formação nunca termina. Ela é permanente. Senão ficamos velhos e obsoletos antes da idade cronológica e do tempo de missão. Do processo de formação inicial, digo que não tenho traumas, nem ressentimentos, nem mágoas. Foi tudo muito bom e muito útil. Passei por três casas de formação, vários formadores e algumas dezenas de colegas seminaristas. Não ficaram marcas negativas. Sou grato a Deus por tudo e por todos que percorreram comigo este caminho formativo. Eu faria tudo de novo.
Ordenado sacerdote, não faltaram tarefas e funções: vigário, pároco, coordenador diocesano de catequese, chanceler, representante dos presbíteros, professor no seminário e nas escolas de teologia para leigos, coordenador de projetos pastorais, vigário geral, administrador diocesano. Cada missão foi uma escola, um aprendizado, uma formação permanente. Amei e servi à minha Igreja Local como leigo, como diácono, como presbítero, como bispo. Essa Igreja me fez discípulo, formou meu coração, amadureceu meu sim, tornou-me missionário. No meu itinerário vocacional estão paróquias centrais e periféricas, urbanas e rurais, vários serviços diocesanos, estudos por aqui e no exterior, amor à Igreja e ao ministério, proximidade com os simples e os pequenos, bom diálogo com todos os que quiseram conversar. No meu caminho também tive, como Jesus, minha Nazaré, minha Betânia, minha Cafarnaum, meu Gólgota… Tudo valeu. Tudo me converteu e continua me convertendo. Tudo ajudou a formar meu coração sacerdotal.
Diácono aos 24 anos, padre aos 25, bispo aos 46. Agora, também em maio, dia 25, serão 9 anos de ministério episcopal. Nestas terras norte-mineiras, onde me sinto tão em casa, meu sim vai se repetindo, dia a dia, em meio ao desafio de conhecer pessoas, lugares, estruturas, projetos, problemas e horizontes desta grande e bela Igreja sertaneja, onde não falta calor da natureza e dos corações, onde a pouca chuva gera suor de amor missionário e sede do Deus vivo.
Gratidão a cada pessoa, homens e mulheres, de todas as idades, classes sociais e perfis humanos que cruzaram meu caminho e me deixaram suas marcas, seu cheiro, suas lembranças indeléveis. Sou o que sou porque os obreiros do meu ser foram seres humanos de grande quilate e valia.
A Deus repito meu sim e espero fazê-lo até o último dia. Para o caminho percorrido e o caminho futuro, não pensei em saída de emergência, nem em plano B, nem em dividir o amor. Tudo é para o ministério e a vocação a que Deus me chamou. Ele tem feito arder meu coração e incitado meus pés no caminho de cada dia. Por Ele e para Ele, vivo! A Ele desejo continuar servindo como sacerdote! A Ele digo de novo: SIM!
Dom José Carlos de Souza Campos
Arcebispo Metropolitano de Montes Claros-MG
Equipe Arquidiocese em Missão